Para além do julgamento

"O pior cego é aquele que não quer ver" (ditado popular)

O texto de hoje é da autoria do amigo e blogueiro Daniel Moraes.

Casal nardoni   Isabella e a mãe

A condenação do casal Nardoni pelo assassinato da menina Isabella só veio confirmar aquilo que todos sabiam, e por mais que o pai e a madrasta da criança não tenham confessado, as provas se fizeram senhor e botaram na cadeia aqueles dois.

Contudo, vamos fazer uma análise além do que o julgamento nos mostrou. Primeiro, o caso Isabella e Richthofen demonstrou o quanto os valores estão invertidos. E como o amor entre pais e filhos está fragilizado, muito disso por causa da estima capitalista de vencer na vida a qualquer custo (há de se ter casa na praia e carro no ano senão você não é um vencedor). Não sou doido de não considerar o valor do dinheiro, porém, não se pode relegar a família. Poderia aqui fazer uma lista de mais coisas, mas muitas delas falei AQUI.

Outro ponto que eu quero detalhar bem: a hipocrisia e a falsidade são tão instituições nacionais quanto o futebol, carnaval e corrupção. No último dia de julgamento centenas de pessoas se colocaram a frente do Fórum para saber do resultado, e quando ela foi proferida ouve comemoração com direito a fogos de artifício e tudo mais. É obvio que esse tipo de caso nos indigna e todos clamam por justiça, todavia, por que comemorar? O que há pra ser comemorado? Uma criança morreu e duas famílias estão em frangalhos! A morte da pequena acabou com a paz e a felicidade delas e as pessoas comemorando?! Não há nada para ser comemorado, muito pelo contrário, esse momento é pra ser refletido e analisado e ponto.

Mas o que mais me deixou abismado foi após a sentença no outro dia, "populares" (ou serão animais?) frente à casa dos pais de Alexandre Nardoni achincalhando o pai dele. Ora bolas, vamos ser francos e sinceros, qual é o pai que não faria o que ele fez que foi defender o filho? É óbvio que pela índole de seu filho, ele pecou em algum ponto da educação, contudo, querer que ele fizesse o contrário é pedir um ato de desprendimento que poucos, mas poucos mesmo teriam (será você uma dessas pessoas?).

Sei que muitos que me lêem aqui me criticarão (e sinta-se a vontade para isso), mas afirmo-lhes, eu faria o mesmo, afinal o maior castigo de Alexandre é a consciência que uma hora ou outra pesará e vai lhe perseguir.

Por fim e o mais importante, enquanto eu escrevo e vocês me lêem uma criança está sendo vitima de algum tipo mau trato. O caso Isabella só teve toda essa repercussão por que a menina vitimada é oriunda de uma família de classe média alta, porém, há crianças Brasil a fora passando por coisas piores; pais, padrasto ou parceiro estuprando meninas e muitas das vezes com a conivência das mães, meninos sendo estuprados por padres, adolescentes se prostituindo nas ruas, enfim, seres humanos de tenra idade passando por todo tipo de maus bocados.

Que esse caso façam vocês todos refletirem sobre sua conduta com seus filhos, pais, e na vida. No dia 27 de março Renato Russo teria feito 50 anos e um refrão de uma música sua em especial chega aos nossos ouvidos feito mantra que, "É PRECISO AMAR AS PESSOAS COMO SE NÃO HOUVESSE AMANHÃ".

Daniel Moraes é estudante universitário e mora em RR. É um prazer tê-lo aqui, pois é um grande amigo. Ele também escreve no blog Submundos em Mim.

12 Comentários:

Elisa disse...

Tenho 38 anos e sou mãe de 2 moças adolescentes. Fui mãe cedo, mas desde quando jovem sempre preservei minhas origens e busquei repassar as minhas filhas (eu e o pai dela) os melhores valores e educação. O que vejo hoje nas famílias e nos relacionamentos é triste. Tudo deturpado.

Sinto uma alegria apenas quando leio um texto como esse (de um jovem), o que me faz ver que não são todos, e que ainda é possível ter esperança nessa nova geração.

junio davidson disse...

Uma das coisas que não ficou clara neste julgamento foi porque não foram divulgados quais os MOTIVOS que levaram o casal à isso.

Só falavam em cíume, ciúme, ciúme... que tipo de cíume é esse que faz um pai MATAR sua própria filha?

Mary disse...

Daniel

Todo pai deve defender seu filho, tenha ele culpa ou não. O que NÃO PODE é querer passar por cima da justiça COMPRANDO as pessoas com seu dinheiro só para vê-lo livre.

bjs

Daniel Savio disse...

Cara, não tem um ditado que os pecados dos pais recairam sobre os filhos?

Mas mesmo com erros do pai do Nardoni, penso que ele não errou ao ponto de criar este monstro...

Fique com Deus, menino Neto.
Um abraço.

Vanessa Alves disse...

Nossa Neto! Quanto tempo, hein?!!!\o/ Mas, enfim, feliz de estar aqui! :D

Como foi dito, este caso foi mesmo um caso complicado. Mesmo assim gostei da condenação dele e acho que 31 anos de cadeia foi justo.

** Offtopic :D
Não estou mais na prefeitura, saí e meu email não é mais corporativo, vou te enviar um email para você me atualizar nos seus contatos. Beijos querido, de saudade!!! :D

Val santos disse...

Opa! Só para lembrar a comentarista acima que aqui é Brasil, e como o povo sofre de amnésia (esquecendo-se rápido das coisas) e a nossa querida justiça é bem 'flexivel', o Sr. Nardoni não irá passar 31 anos de cadeia. Se passar 12, será muito.

Post bom. Muito boa a explanação a do rapaz.

Valdeir Almeida disse...

Daniel,

Sua opinião é a de muitas pessoas, inclusive a minha.

1) De fato, os valores estão invertidos. Grande parte dos pais valorizam muito mais os bens e os títulos do que a própria família,

2)Eu assisti pela TV ao vivo o verectido do Juiz. Espantei-me ao ver aquelas pessoas soltando fogos para comemorar a condenação. Fogos de artifício em frente ao fórum? E a polícia?

Abraços, Daniel e parabéns pela forma como abordou o tema.


Neto, irei agradecer-lhe por e-mail, mas já adianto: obrigado pelas felicitações que deixou no meu blog pelos dois anos do Ponderantes. Agradeço a Deus por ter me dado a oportunidade de ter uma espaço onde eu posso escrever o que penso. E também onde eu pudesse ganhar amigos, como você. Obrigado mesmo.

Abração e ótima semana.

Irene disse...

OLá, Neto !!

E, ao Daniel Moraes, prazer em conhecê-lo.

Esse texto falou sobre aspectos do caso "nardoni" que muitos não tinham analisado antes.

Foi importante a conexão feita entre o caso "nardoni" e a "crise dos valores familiares na atualidade". Incrivel como os casos de brutalidade as crianças no seio familiar aumentaram. Ver padrastos abusando sexualmente de enteadas tornou-se comum em delegacias. A cada dia que passa vemos mais reportagens sobre mães que deixam seus pequenos filhos em carcere privado. E o caso de Isabela Nardoni representou exatemete o que o texto falou: desmantelamento dos principios e da moral familiar.
Sobre as pessoas que, no dia do julgamento, ficaram fazendo baderna na porta do tribunal, confesso que tbm achei aquilo um absurdo. Muitas pessoas estavam ali para aparecer nas reportagens; outros estavam ali pq acharam diverdido; outros estavam ali pq gostam de ver a miseria alheia. Para mim, a atitude mais grave daquele grupo de pessoas foi a forma como eles atacavam fisica e verbalmente os familiares e os advogados do casal condenado. Na minha singela opinião, essa atitude demonstrou a falta de compreensão para ouvir argumentos diferentes. Concordo que o casal é culpado; alias, a justiça provou essa culpa e os condenou. Mas todas as pessoas julgadas pela justiça brasileira têm direito a defesa juridica, por isso, eles tinham advogados que estavam, lá, cumprindo seu dever profissional. E ninguém pode criticar a familia do casal por tê-los apoiado....eles praticaram um ato brutal, mas a familia defendeu o casal por questões emocionais e isso deveria ser respeitado.

Enfim....parabens pelo texto.

Abraços !!!!!!!!!!

Roberto Hyra disse...

A mesma barbárie ocorrida no Fórum de Santana pela população presente foi a mesma bárbarie cometida na Uniban contra a mini saia da Geyse.

Isto prova que o povo não discerne e que a unanimidade é burra. Acreditar e dar vazão à massa e incentivar o povão é agir ilógicamente. Tenho receio em pensar que esse casal tenha sido condenado injustamente. Alguem por acasao, já imaginou esta hipótese?

Blog Doctor disse...

Olá J. Neto! O texto é interessante, e os questionamentos do rapaz são válidos. Muito bem. Em minha prática em Psicologia médica e psiquiátrica vou dizer o que eu penso desse caso: houve elementos subjetivos.

Assisti ao julgamento em vídeo e, pelo que pude perceber no julgamento do casal, o trabalho realizado pelo promotor Cembranelli buscou consolidar essa tese desses elementos.

Vamos aos fatos:

Algumas pessoas, após separadas em seu relacionamento, não conseguem romper vínculos com o passado mesmo após o ínicio de um novo relacionamento. O fato envolvendo o Alexandre Nardoni diz respeito ao seu 'mecanismo de compensação'. Vou explicar-lhe o que significa.

É notório que o casal Nardoni não vivia bem. Viviam em brigas constantes e ciúmes toda hora. Quando você está, em um relacionamento, que não consegue controlar as brigas (ou o motivo delas), elas tendem a crescer e a controlá-los. A Anna Jatobá era um estopim pronto a explodir, e a presença da Isabella era a constante lembrança ao lado dela da ex do seu marido - algo que efetivamente colaborava para aumentarem as brigas e os ciúmes.

Para a madrasta Jatobá, uma forma de terem uma "vida nova e em paz" seria eliminar esses vínculos de Alexandre ao passado dele.

Daí, ela incentivou psicologicamente esta ideia na mente do marido e o provocou (conscientemente ou não seu temperamento explosivo a levava constantemente à isso nas conversas mesmo que de forma velada). Apaixonado por Anna Jatobá, Alexandre não enxergava outra saída (ou solução) para este resolver esse impasse. Precisava recomeçar a vida e estar em paz com a mulher.

Na verdade, não queria matar a menina (essa ideia não passava pela sua cabeça), mas num 'rompante de estresse' - que em psicologia nós chamamos de "cegueira obscura" ele encontrou o momento e atirou a filha da janela.

Tudo movido pela paixão e pelo 'mecanismo de compensação dele' que achava que, se ele eliminasse seu apego ao passado, poderia voltar a viver melhor com sua mulher.

O que Alexandre Nardoni não contou foi com o bom trabalho da péricia criminalista e as contradições de sua mulher no dia do julgamento, pois como todo estudante de Direito, ele sabia o que era preciso fazer para 'representar um papel no julgamento' e estava disposto a fazer cena como ator.

Não tenho nenhuma dúvida de seu crime, até porque, pela consciência, ninguem está imune a num momento de intenso estresse e num rompante, cometer uma coisa inusitada dessas (quantas vezes vocês não viram casos de pessoas que fizeram coisas estranhas depois disseram: "Meu deus! Como foi que eu fiz aquilo?!").

O mecanismo de compensação cerebral pode nos levar ao caminho do bem ou do mal num piscar de olhos. Para mudar isso, que vem de berço, é preciso que ele tenham uma boa educação em família desde cedo - baseada na verdade.

Abraços Neto!

Solange Maia disse...

Neto,

gosto muito dos textos do Daniel...

eu, como mãe que sou, penso muito mais no buraco que restou, na dor que ficou... do que em toda essa "pirotecnia" criada em volta do caso Isabela.

um beijo grande e carinhoso e muito obrigada pela delicadeza lá no Eucaliptos...

senti sua dor... sinta-se abraçado...

Daniel Savio disse...

De nada Valdeir =P

Mas gostei baste do comentário do Blog Doctor, pois explicou a forma psicologica do caso...

Mas nenhum pai deveria sacrificar os proprios filhos, isto é fato.

Fiquem com Deus, menino Doctor Blog e Neto.
Um abraço.

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