As atrizes da cama e os orgasmos de araque

Vale fingir por medo de perder o parceiro?

As estatísticas dizem que as mulheres fingem prazer no sexo para agradar aos homens. Eu acredito. Já percebi mais de uma vez a exaltação exagerada que antecede o orgasmo fajuto. É chato. Bem chato. E não apenas por uma questão de vaidade. Diante de uma atriz de alcova, fico me perguntando por que a mulher está fingindo, por que precisa tanto me agradar, o que há de errado com ela? Meu ego aguenta uma mulher que não goze. Por que ela mesma não consegue lidar com isso?

orgasmos

Nos últimos tempos eu tenho pensado nessas coisas em um contexto mais amplo, o da sinceridade nas relações.

Fingir um orgasmo talvez seja como sair com alguém sem ter vontade, como conversar quando se quer ficar calado, como abraçar quando se deseja – na verdade – estar a um quilômetro de distância, lendo um livro ou vendo um filme sozinho. Nós fazemos todas essas coisas. Nós mentimos para agradar o outro. Aceitamos a imposição da vontade do outro sobre o nosso próprio desejo, e depois o detestamos por isso. Por quê?

Outro dia uma amiga me perguntou uma coisa interessante: você já percebeu que as mulheres fingem gostar muito mais de sexo do que realmente gostam? Diante da minha negativa, ela explicou que, na intimidade, as mulheres se mostram menos entusiasmadas com sexo do que dão a perceber na presença dos homens.

O motivo desse fingimento, disse ela, é que nós, homens, só “pensamos em sexo, o tempo todo”. Logo, qualquer mulher de bom senso, que não queira desapontar seu parceiro (e correr o risco de ficar sem ele), vai bancar a Messalina de tempo integral, mesmo sem ter vontade. Eu não sei o quanto isso é verdadeiro, ou para quantas mulheres valem essas afirmações, mas faz algum sentido – e ajuda a explicar os orgasmos de araque. Mas a coisa toda é um enorme equívoco, em varias instâncias.

Primeiro equívoco: os homens não querem sexo o tempo todo. Eles falam e fantasiam sobre sexo, o que é inteiramente diferente. Tente dar ao seu garanhão a dose de sexo a que ele parece demandar e você (com 90% de possibilidade) vai ver um homem constrangido.

Segundo equívoco: as fantasias masculinas (desculpem, garotas...) não são apenas com as parceiras. Elas envolvem outras mulheres. A vizinha, a colega, a sua amiga, a cunhada, a garota do metrô. É humano desejar o que não se tem. É claro, também, que um sujeito emocionalmente envolvido e com uma vida sexual intensa com a própria mulher tem menos motivos para correr atrás de fantasias, mas o desejo dele não está morto.

Aliás, isso vale igualzinho para homens e mulheres. Não há como suprimir o desejo. Nem como forçá-lo em uma única direção. A fidelidade é um acordo (flexível) que se faz com o outro e (sobretudo) consigo mesmo. Mas o desejo nunca se esgota. Ele é canalizado, racionalizado e controlado. Sublimado, enfim.

fingimento

O que isso tem a ver com a sinceridade nas relações?

Tudo, eu acho. Se a gente acredita que tem de satisfazer todas as necessidades, as carências, os medos e as taras do outro (ainda que imaginárias), vai acabar mentindo. E não apenas sobre sexo. O que está em jogo é a capacidade de colocar na mesa ou na cama as próprias vontades, superando o medo de desagradar ou desapontar. Esse medo parece nortear exageradamente as nossas ações em relação aos nossos parceiros. O medo da solidão. Ele pode nos levar a mentir e falsear várias coisas, inclusive orgasmos. Ele nos leva a fingir.

Qual a solução? Só vejo a possibilidade de conversar, correr o risco, dizer o que pensa. Se o outro lado não souber ou não quiser ouvir suas razões, talvez não seja a pessoa certa. Se você tem de continuar fingindo orgasmos, ou risadas, ou interesses, ou qualquer coisa importante, algo está errado – e vai fatalmente se voltar contra o parceiro. Em geral a punição ao outro vem na forma de um mau humor persistente e broxante, que acaba destruindo o convívio.

Qualquer coisa que a gente faça obrigado, mesmo que inconscientemente, vai ter troco. Descobri isso na análise, mas nem precisava. Qualquer pessoa esperta sabe que a gente não pode querer uma coisa e fazer outra por muito tempo sem ficar maluco. Ou puto da vida. Geralmente os dois.

Ivan Martins é o autor do post, e é editor executivo da revista Época.

Seu texto "Atrizes de Alcova" foi reproduzido aqui (com autorização), porque a opinião dele é idêntica a minha em relação a esse assunto :-)

6 Comentários:

Anônimo disse...

"nosso desejo não tem lei
e o resto é pura ilusão"

Grato pela visita e comentário.

DANIEL MORAES disse...

Uma vez, questionando uma amiga sobre o assunto ela me disse: "vocês, muitas vezes, não nos levam no bico, tendo um, dois, três casos? Se nos enganam para ter outras mulheres, por que não fingir orgamos?". De certa forma ela tem razão! rsrs. Mas o que realmente interessa é a sinceridade da relação. Um abraço.

http://submundosemmim.blogspot.com

Anônimo disse...

O que mais me falou no texto acima foi o trecho em que afirma "não há como suprimir o desejo. Nem como forçá-lo em uma única direção." Por isso me utilizei dos versos da canção da Marina que dizem "o nosso desejo não tem lei e o resto é pura ilusão".

Quanto ao teu comentário no InterTextual, fique tranquilo, pois não me sentirei constrangido aqui e registrarei sempre o que sinto, estou à vontade. Fique você também e não se preocupe em entender o que está escrito. De uma forma ou de outra, as palavras sempre comunicam.

Um abraço e uma pergunta: por que a preocupação com os teus filhos? Até então, não vi nada aqui que eles não possam ler.

Até breve.

Lua Nova disse...

Olá...

Um texto muito bem escrito, abordando o assunto de forma clara, objetiva e, ao mesmo tempo, permeado de sensibilidade.
Acho que seria mesmo o ideal que a mulher se libertasse a ponto de não se sentir obrigada a ser perfeita para o homem na cama e aceitar sua sexualidade como ela é. Seria maravilhoso poder chegar a uma intimidade na qual tudo fosse conversado e as particularidades de ambos levadas em consideração para que o ato fosse bom para ambos.
Entretanto, se é lamentável que as mulheres ainda façam teatro, também é lamentável que o nº de homens que agem e pensam como o autor do texto e vc, Neto, também não seja assim tão expressivo. Há homens que ainda acreditam que, se a mulher não goza, é porque não ama o suficiente ou tem outro.
Acho que tudo que envolve sexo demanda um aprendizado mais lento por lidar com uma área naturalmente complexa. O feminismo mudou muito a vida da mulher na sociedade, mas essa questão é muito mais complicada. É de foro íntimo e pessoal e não é todo mundo que pode fazer uma análise.
Eu falo demais. Perdoe-me.
Gostei do seu blog e do seu jeito.
Convido-o a conhecer o meu.
Beijokas.
Seguindo...

paquerainternet.com.br disse...

Só sendo muito burrinho pra não perceber que uma mulher está fingindo orgasmo.
O mais interessante nisso tudo é que muitos homens GOSTAM desse vingimento, mesmo por que os sons excitam. Ate mesmo eu simulo uns gemidos.
Saiba, são formas de estimular o parceiro: Você finge um prazer mais intenso para que o outro fique excitado tambem e finja uma excitação ainda maior do que realmente sentiu.
Não difere muito do estímulo físico mutuo - apenas variamos a origem.

Daniel Savio disse...

Talvez seja uma resposta meio desastrada minha, mas será que estamos preparados para a resposta das nossas companheiras?

Acabamos acorstumados a sermos o melhores, mas quando quando isto interfere no nosso ego, muda muito a relação...

Fique com Deus, menino Neto.
Um abraço.

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