Onde começa o Homem no homem?

O post a seguir é da autoria do amigo e leitor, Éverton Vidal Azevedo. Um jovem talentoso que escreve todos os dias no blog Re-Novidade. Éverton, além de ser um rapaz espirituoso e brilhante nos seus textos, é devoto cristão. Ele participa também no blog Descanso da Alma. Siga-o, pois, nos dias atuais, é leitura necessária e recomendada.
origem-homem

Um poema me persegue. É de João Cabral de Melo Neto. Um poema que conheço desde o Ensino Médio, e me topei com ele esta semana num livro de poesia moderna. Cão sem plumas:

Na paisagem do rio
difícil é saber
onde começa o rio;
onde a lama
começa do rio;
onde a terra
começa da lama;
onde o homem,
onde a pele
começa da lama;
onde começa o homem
naquele homem.

Eu transformo em pergunta a intuição do poeta pernambucano: Onde começa o homem naquele homem? Onde começa e termina o homem no homem?... E esse problema me leva imediatamente ao ser-mais de Paulo Freire, e ao homem-transbordante de Nietzsche, e ao tome a sua cruz e siga-me do Cristo... E assim vai se formando uma teia que não delimita o humano, mas procura que ele evolua humano e sendo cada vez mais humano.

Porque o fato de ser homem e mulher não quer dizer que se esteja sendo humano. Na teologia de São Paulo há dois mundos, um que é o cosmos, a natureza, outro que é artificial, um para-mundo construído pelos homens na sua caminhada. Esse outro mundo é o dos poderes, o das pulsões humanas desordenadas. É um mundo que desumaniza. Que coisifica os homens. Que permite e justifica a exploração. Onde "um supersônico atravessa a Etiópia num segundo, e nem por isso os negrinhos esquálidos sobrevivem à fome", nos versos de Luiz Eurico, outro poeta pernambucano.

Nesse mundo às avessas, onde quem mais lucra com ecologia são as empresas que mais degradam o meio-ambiente, onde os fabricadores de minas ganham o triplo para retirá-las, mundo onde a injustiça rola solta enquanto os políticos – de esquerda, direita e o diacho a quatro – debatem picuinhas e aumento de salários, é impossível não ficar de saco cheio. Até onde vai esse cinismo? Como se não bastasse as contradições, a nossa era é da generalização da desesperança.

Quem ainda acredita no mundo onde os homens e mulheres possam desenvolver-se como homens e mulheres que são? Isso não é uma utopia ingênua? E vemos pela tv o modo-de-ser de um mundo onde a desesperança é a lei.

Minha resposta não pretende ser solução, mas uma contribuição pequena e sincera a uma busca que deve ser minha, sua e nossa: Ressuscitar a esperança. Criar realidades a partir de utopias possíveis. Abandonando os velhos discursos desvairados, estereotipados que apesar dos alardes só constroem regressão. Abandonar a acomodação ante o status quo, e a segurança de deixar as coisas como estão. Arregaçar as mangas por um mundo que mesmo imperfeito, permite que os homens cumpram o que é de sua natureza ser, isto é, cada vez mais homens, realizadores, construtores de si e livres pra julgar e cravar as unhas na máquina do mundo e do tempo que mói gentes. A consciência transformadora se preocupa mesmo. E no Brasil já chega a hora do voto...

8 Comentários:

Valdeir Almeida disse...

Deus criou o Homem bom. Mas ele (o Homem) se corrompeu.

Gostei da reflexão do Éverton. É preciso recuperar este homem no homem que Deus fez.

Não é ruim ser humano (homem ou mulher), o problema está no que fizemos com nossa essência humana.

Abraços Neto e Éverton.

Elisa disse...

Profundo.

Devido a grande pressão do trabalho e os excessos do consumismo e a ambição de querer mais e mais, as vezes, não paramos para pensar nas nossas origens e nem valorizar aquilo que nos foi dado por Deus. O jovem aí está certo. É preciso parar e refletir.

Bom texto.

Amanda Lima disse...

Ler um texto como esse em pleno domingo dia dos pais é um presente. E uma esperança. Gostei da crônica.

Muito bacana o blog desse rapaz, pena que ele não tem twitter, ó...

Roberto Hyra disse...

Caramba! Tô acostumado a vir aqui e ler opiniões polêmicas sobre a política, o Lula, o congresso e afins, mas dessa vez você inovou hehe

O futuro da humanidade é algo realmente intrigante para todos. De onde viemos? Para onde vamos? Qual é nossa missão na terra? são muitas entre outras perguntas que martelam as nossas cabeças por séculos. Agora, falar sobre nós mesmos e quem somos é algo não muito comum atualmente. A maioria das pessoas pensam que sabem quem elas são e depois descobrem que não são o que pensam e nem o que imaginam.

O texto desse rapaz nos convida a uma reflexão sobre o nosso comportamento como homem, e o que deveríamos fazer para melhorar essa nossa condição... É interessante. Embora eu já tenha me decidido nessa questão, creio que para os novos jovens vale a pena fazer a reflexão. Principalmente por conta dessa desestrutura social e dessa inversão de valores que vivemos hoje no "mundo moderno".

Parabésn ao Éverton pelo texto. Cabeça boa a dele! Ganhou mais um leitor rs

Jurema Cappelletti disse...

OFFTOPIC

Neto, Não me surpreendi com a Marina. Há uns dias pedi que me retirassem do Movimento Marina, por ter me decepcionado demais com ela.

No ano passado, cortei Fernando Gabeira (caso das viagens e a resposta arrogante para se defedender do indefensável)

Marina era a última em quem ainda acreditava. NÃO SOBROU NINGUÉM.

Leu a Veja desta semana? Parece um livro de terror. Vou colocar um dos assuntos no blog. Talvez você não concorde, mas gostaria de saber qual sua opinião.

Um abração, Ju

Éverton Vidal Azevedo disse...

OFFTOPIC (também rs)

Eu li a Veja. Pra ser sincero há muito que nao considero a tal revista uma fonte confiável. A veja nunca vê nada que vá além "daqueles" colunistas lá.

Mas ainda assim, leio, no site, quando dá. E saiu com aquela sensacao de "cala a boca" veja.

De uma maneira "avessa" a VEja se enquadra nos "velhos discursos desvairados, estereotipados que apesar dos alardes só constroem regressão".

Karla Gisele disse...

Também gostei!
Uma reflexão sobre o ser humano que devemos cultivar ou quem sabe resgatar dentro de alguns de nós!

Quem sabe assim, poderemos cumprir a tarefa para a qual fomos designados, ou seja, gerenciar a terra e o que há nela, mas sem esquecer de que tudo pertence à Deus e que fomos feitos à Sua imagem e semelhança.

Então para Deus, sempre o melhor! Daí temos a obrigação de ser melhores a cada dia e em tudo o que fazemos.

pensandoemfamilia disse...

Gostei muitodo que li, reflexão objetiva de por onde caminha a humanidade e o quanto precisamos recuperá-la.
Parabéns.

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